Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


quinta-feira, 22 de março de 2012

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Desdobrei a minha orfandade
sobre a mesa, como um mapa.
Desenhei o meu itinerário
até ao meu lugar ao vento.
Os que chegam não me encontram.
Os que espero não existem.



E bebi licores furiosos
para transmutar os rostos
num anjo, em copos vazios.

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Poema: Alejandra Pizarnik, Festa.
Arte: Edward Hopper. Lado leste interior, 1922.

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domingo, 4 de março de 2012

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Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher a tua imagem
porque és melhor que todas as tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque te olho e morro
se não te olho amor
se não te olho


porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite pese e eu te tenha
e não

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Arte: Marc Chagall. O sonho de Paris, 1969.
Texto: Mário Benedetti. Coração couraça.

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