Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


terça-feira, 31 de agosto de 2010

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Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.
Mas, como eu não era comunista, eu não protestei.

Depois, vieram buscar os judeus.
mas, como eu não era judeu, eu me calei.

Então, vieram buscar os sindicalistas.
mas, como eu não era sindicalista, eu não protestei.

Depois, vieram buscar os católicos e,
como eu era protestante, eu me calei.

Depois, vieram buscar os homosexuais,
como eu não sou homosexual, eu não protestei.

Então, vieram me buscar...
e já não havia ninguém para protestar!

Poema: Martin Niemöller
Arte: Tarsila do Amaral

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sábado, 28 de agosto de 2010

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O teu sentido depende do sentido dos outros, quer tu queiras quer não. O teu gosto depende do gosto dos outros, quer tu queiras ou quer não. O teu ato depende é movimento de um jogo. Não de uma dança. É eu mudar o jogo ou a dança e mudo o teu ato num outro.

Construíste as tuas muralhas por causa de um jogo, tu próprio as destruíras por causa de outro.

É que vives, não das coisas, mas do sentido das coisas.

Texto: Saint Exupéry
Arte: Paul Klee

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Te Quero

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Tuas mãos são minha carícia
Meus acordes cotidianos
Te quero porque tuas mãos
Trabalham pela justiça

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

Teus olhos são meu conjuro
Contra a má jornada
Te quero por teu olhar
Que olha e semeia futuro

Tua boca que é tua e minha
Tua boca não se equivoca
Te quero porque tua boca
Sabe gritar rebeldia

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

E por teu rosto sincero
E teu passo vagabundo
E teu pranto pelo mundo
Porque és povo te quero

E porque o amor não é auréola
Nem cândida moral
E porque somos casal
Que sabe que não está só

Te quero em meu paraíso
E dizer que em meu país
As pessoas vivem felizes
Embora não tenham permissão

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois.

Poema: Mário Benedetti

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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Um, dois, três e quatro,
Dobro a perna e dou um salto,
Viro e me viro ao revés
e se eu caio conto até dez.



Quando estou num palco
Entre luzes a brilhar,
Eu me sinto um pássaro
A voar, voar, voar.

Letra: Toquinho e Mutinho
Arte: Edgar Degas

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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É que estremece o meu convulso coração quando ela fala
E verte o sangue silábico, ou então se cala.

Trecho: Dylan Thomas
Arte: Henri Matisse

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

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Ah, se a juventude que essa brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor
De ser tão só
Prá ser um sonho.



Fica, oh, brisa frica, pois talvez quem sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim queira ficar...

Letra: Johnny Alf
Arte: Henri Matisse

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

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Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro



Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

Canção: Titãs
Fotografia: Kakhabad

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Ainda bem que não te basta olhar para ver.



Eu dizia de mim para mim:
- Nem aqueles que, através das coisas, sabem tocar o nó divino que as liga umas às outras dispõem permanentemente desse poder. A alma está cheia de sono. A alma não exercitada o está ainda mais. Como esperar que eles sejam tocados pela revelação como que por um raio? Só deparam com o raio aqueles que nele encontram a solução. Porque esperavam esse rosto, tão construídos estavam para serem abrasados por ele. O mesmo se passa com aquele que, mediante o exercício da oração, eu tornei disponível para o amor. Fundei-o tão bem, tão bem, que certos sorrisos serão para eles como gládios. Mas outros, em compensação, não passam de joguete do desejo.
Sei agora que amar é reconhecer e conhecer o rosto lido através das coisas. O amor não passa de conhecimento dos deuses.
Uma verdadeira janela se te rasga naquele preciso instante em que te é dado apreender na sua unidade a propriedade, a escultura, o poema, o império, a mulher ou Deus, através da piedade dos homens. Mas é a morte do teu amor no momento em que não vês nessas realidades mais do que conjuntos. E, no entando, não mudou aquilo que te é dado pela via dos sentidos.
Urge, por isso, converter aqueles que vêm ter comigo olhando sem ver. Só nessa altura se iluminarão e se tornarão vastos. E só então ficarão nus.

Texto: Saint Exupéry
Arte: Marc Chagall

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domingo, 15 de agosto de 2010

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Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos.

Leonardo da Vinci
Fotografia: Vanilia

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Da Primeira Febre de Amor

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Da primeira febre de amor ao seu flagelo, da segunda,
Mais branda, ao desértico instante do útero,
De seu desdobramento ao umbigo cortado,
Ao tempo do seio e à época feliz do avental,
Quando nenhuma boca se contorcia por não ter o que comer,
O mundo inteiro era um só, um nada tempestuoso;
Meu mundo fora batizado num córrego de leite.
A Terra e o céu eram como uma colina flutuante,
E o sol e a lua derramavam sua luz imaculada.

Da primeira impressão deixada pelos pés descalços,
Da mão que se levanta, do aparecimento dos pêlos,
Ao milagre da primeira palavra afinal articulada,
Do primeiro segredo do coração, o fantasma que adverte,
À primeira ferida silenciosa na carne,
O sol era vermelho, a luz acinzentada,
E a Terra e o céu como duas montanhas enlaçadas.

O corpo progredia, os dentes irrompiam das gengivas,
Os ossos se desenvolviam, ouvia-se o rumor do sêmen
Dentro da glândula sagrada, o sangue abençoava o coração,
E os quatro ventos, que sopravam como um só,
Irradiavam a luz do som em meus ouvidos,
Despertando os meus olhos para o som da luz.
E amarela era a areia que se multiplicava,
Cada grão dourado dava vida ao que lhe estava ao lado
Verde era a casa que cantava.

A ameixa colhida por minha mãe amadureceu lentamente,
O menino que ela fizera emergir das trevas
Crescia forte ao seu lado no regaço da luz.
Era musculoso, carnudo, atento às coxas que gemiam
E à voz que, como a voz da fome,
Comichava no rumor do vento e do sol.

E aprendi, com a primeira fraqueza da carne,
A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento
No pedregoso idioma do cérebro, a obscurecer
E novamente urdir a trama das palavras
Legadas pelo morto que, em seu alqueire sem luar,
Não carecia de nenhum calor verbal.
A raiz das línguas se extingue num câncer estiolado,
Que é apenas um nome sobre o qual os vermes fazem um xis.

Aprendi os verbos da vontade, e tinha um segredo;
O código da noite se imprimira em minha língua;
O que fora um só eram muitos a ecoar no espírito.

Um só útero, um só espírito, expeliram a matéria,
Um único seio amamentou o fruto da febre;
Conheci a outra face do céu que se divorcia,
O planeta bilobado que girava em uma órbita;
Milhões de espíritos nutriam uma semente,
Como aquela que bifurca o meu olhar;
A juventude se abreviava, as lágrimas da primavera
Se dissolviam no verão e em centenas de estações;
Um único sol, um só maná, aqueciam e alimentavam.

Dylan Thomas

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

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O lobo-guará é manso
foge diante de qualquer ameaça
é solitário
avesso ao dia, tímido

detesta as cidades
onde quase sempre é atropelado
onívoro, com mandíbulas fracas
come pássaros, ratos, ovos, frutas

às vezes, quando está perdido,
vasculha latas de lixo nas ruas
engasga ao mastigar garrafas
de plástico ou isopores

se corta ou morre ao morder
lâmpadas fluorescentes
ou engolir fios elétricos
morre ao lamber inseticidas

ou restos de tinta
ou ao engolir remédios vencidos
ou seringas e agulhas
descartáveis



dócil, sem astúcia,
é facilmente capturado e morto
por traficantes de pele
quando então uiva!

Poema: Régis Bonvicino
Imagem retirada do Google

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domingo, 8 de agosto de 2010

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Tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete de flores
a concebê-las.

José Gomes Ferreira
Arte: Claude Monet

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

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E se você dormisse? E se você sonhasse?
E se, em teu sonho, você fosse ao paraíso
e lá colhesse uma flor bela e estranha?
E se, ao despertar, você tivesse a flor
entre as mãos? Ah, e então?

Samuel Taylor Coleridge
Fotografia: Kakhabad

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

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É quando resistes que conhece o que te move. E, para a folha
entregue ao vento, deixa de haver vento, da mesma maneira que
para a pedra liberta deixa de haver peso.

Saint Exupéry

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